Livros, ofícios, atas e processos compõem a mostra realizada em parceria com o Arquivo Histórico de Juiz de Fora, um dos maiores e mais antigos de Minas Gerais. Os documentos narram a formação e o cotidiano do município em meados do século XIX, ou seja, imediatamente após a Independência do Brasil, em 1822, até a República, no final do século. Em celebração do Bicentenário da Independência, a exposição reflete sobre passado, presente e futuro de uma cidade e de um país, tensionando a narrativa oficial.
Acervos envolvidos: Arquivo Histórico de Juiz de Fora (Prefeitura de Juiz de Fora)
Visitação: de 2 de setembrode 2022 a 7 de janeiro de 2023
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“De falta em falta a história se acumula”
Edimilson de Almeida Pereira
(“O estranho”, in “Poesia +”, 2019)
Qual história a história conta? Quais histórias a história esconde? Qual história reproduzimos apagando tantas outras histórias? Quem escreve essa história oficial? Os documentos que resistiram ao tempo, preservados no resistente e resiliente Arquivo Histórico de Juiz de Fora, revelam um território “que a história não conta, o avesso do mesmo lugar”, como canta o samba vitorioso da Estação Primeira de Mangueira. “Na luta é que a gente se encontra”, entoa a mesma música que clama por “um país que não está no retrato”. Entre milhares de caixas, processos e papeis estão registros de um município que não está no retrato, mas que com exatidão retrata o Brasil Imperial e o projeto Republicano. Antes um traçado de rio cruzado pelo Caminho Novo, o lugar tornou-se vila, distrito de Barbacena e, em 1850, ganhou autonomia, fez-se independente, com o nome de Santo Antônio do Paraibuna. Quinze anos depois, a Cidade do Paraibuna é nomeada Juiz de Fora.
Essa Juiz de Fora que se ergue logo após a Independência do Brasil, cujo Bicentenário celebramos agora, tem as marcas das novas dependências com as quais ainda hoje sofremos. Esse lugar ainda preserva o que poderia e deveria ter sido superado. E só conserva porque atua por uma ficção. Expor documentos, todos originais e apresentados pela primeira vez, é estratégia de rompimento, em prol de outra memória, há décadas defendida pela historiografia, por pesquisas e pesquisadores de todo o país e, em especial, desta UFJF, que insistentemente denuncia a ausência de correspondência da história contada com a histórica documentada.
Juiz de Fora sempre foi um território negro. Ao longo do século XIX, a população negra escravizada equivalia a dois terços do total de habitantes do município. A escravidão, portanto, é questão central na discussão sobre a cidade de ontem e de hoje. Violenta e desumana, essa prática foi institucionalizada pelas elites hegemônicas e por uma justiça que reconhecia literalmente esses homens e mulheres como meros objetos. “Pode o subalterno falar?”, indaga retoricamente a pós-colonialista Gayatri Chakravorty Spivak. Ao longo das décadas, esses subalternos não se calaram em diferentes cantos da cidade. Não foram ouvidos. Suas existências, entretanto, estão conservadas nessas folhas desgastadas pelo tempo. São muitas as formas de resistência, o que também se faz legado. As feridas ainda estão expostas. E os silêncios constrangem.
“Independência para quem?”, perguntam Elione Silva Guimarães e Antônio Henrique Duarte Lacerda, incansáveis pesquisadores e protetores de um acervo agigantado e precioso, repleto de vozes a espera de escuta, vozes que oferecem outra paisagem para Juiz de Fora. Escavemos, então, até as raízes. Adubemos novamente. Reguemos a terra. E aguardemos novos frutos. Autênticos frutos que virão. Futuro sem passado é presente expresso em revoltantes manchetes de jornal.
In:dependência
Futuro sem passado é presente
Realização
Universidade Federal de Juiz de Fora
Pró-reitoria de Cultura
Memorial da República Presidente Itamar Franco
Prefeitura de Juiz de Fora
Arquivo Histórico de Juiz de Fora
Curadoria
Mauro Morais
Pesquisa
Elione Silva Guimarães
Antônio Henrique Duarte Lacerda
Assistência curatorial
Enrico Mancini
Jasmyn Lucchesi
Juliana Barbosa
Olímpio Silva
Vidal Pancera
Montagem
Paulo Alvarez
Identidade visual
Alexandre Amino
Memorial da República Presidente Itamar Franco
Reitor
Marcus Vinicius David
Vice-reitora
Girlene Alves da Silva
Pró-reitora de Cultura
Valéria Faria
Direção
Daniella Lisieux
Biblioteca e Arquivo
Kelly Herrera
Lilian Andrade
Maria Clara de Assis Mitterhoff
Cultura e Educação
Mauro Morais
Diagramação
Alexandre Amino
Programa de Bolsas de Iniciação Artística (Pibiart)
Enrico Mancini
Jasmyn Lucchesi
Júlia Torrent
Juliana Barbosa
Olímpio Silva
Vidal Pancera
Recepção
Lilia Janilda Graça de Souza
Juliana Ferreira Clemente Pimentel
Segurança e Conservação
Abel de Castro Evaristo
Carlos Alexandre Novato
Cristiane de Assis
Geraldo Magela
Jéssica Claudino
João Fonseca
Karla Dias