Por que não cair no abismo?

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Raquel Reis

Em entrevista a professora Lilia Schwarcz, Ailton Krenak descreve que a natureza ao redor de sua casa, como as borboletas amarelas e o hibisco, continuavam suas vidas, que a natureza continuava majestosa, que a pandemia vinha assolando apenas o corpo humano.

A soberba antropocêntrica do homem ocidental que enxerga a natureza como recurso, que trata humanidade e planeta de forma diferente, que só pensa em estender a vida e não falam sobre a morte, vem perdendo milhares de vidas nos últimos meses.

É de partir o coração a história das duas mães Yanomami que perderam os filhos para a Covid-19 e nunca souberam para onde foram esses corpos. Os Yanomami possuem uma forma de morrer, talvez porque tenham aprendido a morrer, destaca Krenak.

“O Brasil é terra indígena”, eu vi escrito em uma camisa. Se existe um patriotismo estabelecido por fronteiras, que seja com todos, temos responsabilidade com os povos da floresta.

Talvez escutar vozes indígenas possam nos ajudar a passar por esse luto inevitável, em uma onda de ninguém soltar a mão de ninguém.

 “Talvez estejamos muito condicionados a uma ideia de ser humano e a um tipo de existência. Se a gente desestabiliza esse padrão, talvez a nossa mente sofra uma ruptura, como se caíssemos num abismo. Quem disse que a gente não pode cair? Quem disse que a gente já não caiu?
[…]
Assim como nós estamos hoje vivendo o desastre do nosso tempo, ao qual algumas seletas pessoas chamam de Antropoceno. A grande maioria está chamando de caos social, desgoverno geral, perda de qualidade no cotidiano, nas relações, e estamos todos jogados nesse abismo”.

Crédito da Imagem: Companhia das Letras

REFERÊNCIAS

KRENAK, Ailton (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras.


Como citar esse texto: REIS, Raquel (2020). “Por que não cair no abismo”. Panteão: Memorial da República Presidente Itamar Franco. [online]. Acesso em: [dia-mês-ano da consulta], n.p. Disponível em: [link do post]


Raquel Reis

Meu nome é Raquel Reis. Sou licenciada em Letras, pela UFJF, e mestre em Ciência da Literatura, pela UFRJ. Me realizo – nos dias de hoje – na leitura que estimula uma reflexão da nossa realidade e na escrita de algumas provocações.

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