Ateliê da artista, uma análise da obra de Maria Auxiliadora da Silva – Parte 5

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Ramon Vilaça

RESUMO: Maria Auxiliadora da Silva foi uma pintora brasileira, autodidata, nascida em Minas Gerais, mas que desenvolveu seu trabalho em São Paulo, dedicando-se exclusivamente a sua produção quando ficou incapacitada de trabalhar como doméstica por uma enfermidade. Neste estudo, apresento uma análise da obra Ateliê da artista e família, de 1973, pertencente ao acervo do MASP, buscando as auto referências e influências presentes na imagem, bem como propor uma reflexão sobre as representações e a repercussão crítica da artista.

Parte 5 – Conclusão

Esse artigo será publicado em 5 partes, nos dias 04/01, 11/01, 18/01, 25/01 e 01/02 de 2021:

04/01 – Parte 1: Introdução
11/01 – Parte 2: A Artista
18/01 – Parte 3: A obra
25/01: Parte 4: Críticas
01/02: Parte 5: Conclusão

O campo visual propicia experiências vastas que podem tanto contribuir negativamente, reforçando estereótipos, quanto positivamente, propiciando a valorização da estética negra que contribuiria para a eliminação de estereótipos.

A artista evita, em suas obras, a tipificação do negro e do mestiço apenas como trabalhadores, trazendo em posições de destaque, como nas representações de cortejos religiosos e na celebração do tempo livre, em festas juninas e do Divino, onde todos dividem o plano. Também traz um professor negro, personagens de contos de fada, terreiros de umbanda e candomblé, mesas fartas e colheitas abundantes.

Seu ato de pintar com as mechas de cabelo crespo é uma afirmação identitária, de negritude. Com um legado que inspira empoderamento, a importância de valorizar a obra de Maria Auxiliadora anda junto com o compromisso da reparação histórica, que não consiste em migalhas emocionais alcançadas por palavras bonitas, é necessário o engajamento em práticas que eternizarão a luta e a vida de seu povo. O trabalho da artista precisa frequentar museus e galerias, encontrar propagadores, e habitar as salas de aula. É vital, numa sociedade que diminui a passos largos a expectativa de vida do jovem negro, exemplos de sucesso como o de Auxiliadora, que alcançou reconhecimento internacional. Mais do que cifras, mostrar o apreço por nossos temas, nossas cores, nossas histórias. O sentido de resistência de Maria Auxiliadora é a sua própria existência.

“A obra de Maria Auxiliadora não é política como um manifesto, mas como materialização da expressão pessoal de uma mulher negra que encontra sua voz olhando para perto, para si e para os seus, ao tratar de seus desejos e de sua inserção no mundo”

Renata Bittencourt

Crédito da imagem destacada na chamada do post: Oxum (1972) – Acervo MASP [reprodução]

REFERÊNCIAS:
BARDI, Pietro Maria. Maria Auxiliadora da Silva. S.l. (Itália): Giuliobolaffi, 1977.
BAUDELAIRE, CHARLES. Sobre a modernidade: o pintor da vida moderna. 4 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996
BITTENCOURT, Renata. I paint creoles. In: Catalogue Maria Auxiliadora: daily life, painting and resistence. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo (MASP). 2018. p. 32-40.
MASP. Maria Auxiliadora: vida cotidiana, pintura e resistência. Masp, 2018. Disponível em: https://masp.org.br/exposicoes/maria-auxiliadora-da-silva-vida-cotidiana-pintura-e-resistencia
NEGREIROS, HANAYRÁ. Ela pinta como se estivesse bordando: pinturas e vestimentas na obra de Maria Auxiliadora. Disponível em: Revista dObras | VOLUME 12 | NÚMERO 25 | ABRIL 2019. https://dobras.emnuvens.com.br/dobras | e-ISSN 2358-0003
VIEIRA, ANDRESSA SANTOS. Sob peles negras: imaginário, repressão e representação visual de mulheres negras no Brasil dos séculos XIX e XX. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Uberlândia. 2017.

Leia aqui a parte 1 desse artigo


Ramon Vilaça é de São José dos Campos, SP, e atualmente estuda Artes e Design no IAD, da Universidade Federal de Juiz de Fora. Sempre pensando nas conexões moda e arte, o artista busca estabelecer diálogos entre a produção artística de indivíduos afrodescendentes, queers e outros desfocados da visão predominante, resgatando suas histórias e vivências, para a partir destas, moldar um futuro mais multifacetado.

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