‘A experiência promovida pelos cinemas de rua é, e sempre será, mais acessível e democrática’, afirma Franco Groia | 5ª Semana Nacional de Arquivos

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Em 2017 o último cinema de rua foi fechado em Juiz de Fora. Outrora repleta deles, a cidade viu dezenas desses espaços cerrarem as portas nas últimas décadas. Restaram retratos nas paredes, que Franco Groia tão bem conhece. Cineasta, produtor, professor e pesquisador, o jornalista por formação é um dos maiores conhecedores da história dessas casas em Juiz de Fora. Inclusive, defendeu a permanência de todas que conheceu, como o Cine Excelsior, cinema de rua na Avenida Rio Branco, e o Palace, o derradeiro, na Halfeld.

Criador, coordenador e editor do portal “História do Cinema Brasileiro”, Groia reúne registros dos espaços de Juiz de Fora e também de diferentes cantos do país, além de retratar o presente e suas múltiplas produções. Convidado para ministrar o minicurso “Documentação sobre o cinema de Juiz de Fora no acervo do Arquivo Central da UFJF”, o professor da Universo-JF aborda a exposição virtual em cartaz na instituição universitária, inaugurando a programação do Memorial para a 5ª Semana Nacional de Arquivos, promovida pelo Arquivo Nacional.

O evento gratuito e aberto ao público acontece nesta segunda, 7 de junho, às 17h, no canal do Memorial no YouTube. Em entrevista ao Panteão, Groia aborda a temática e lamenta a atual paisagem local, sem cinemas de rua que cumpriam um papel não apenas de democratizar o acesso, mas a própria oferta de produções, como ressalta.


O que destaca da documentação reunida pelo Arquivo Central acerca dos cinemas de Juiz de Fora? O que há de curioso nesse acervo?
A documentação reunida no Arquivo Central sobre os cinemas da cidade é muito importante e bastante singular, pois trata de um recorte temporal em que a Cia Central de Diversões atuou na cidade. Tais documentos retratam, por exemplo, os atos constitutivos da construção do Cine-Theatro Central até o fim de suas atividades, passando por diversas fases empresariais, nas quais a empresa se fazia hegemônica no setor da exibição cinematográfica no município.
Evidentemente, existem muitos outros documentos interessantes, além dos que se referem ao Central. Por exemplo, tem muito sobre a história do CEC (Centro de Estudos Cinematográficos) de Juiz de Fora, com atas, borderôs, materiais de divulgação. Sua importância deve-se ao fato de ser uma fonte pactual sobre a atividade cineclubista na cidade, anterior à da capital Belo Horizonte. Outro fundo importante que também destacaria, constitui uma das preciosidades históricas e afetivas da cinefilia juiz-forana: os itens doados por Wantencir Parizzi à coleção do Arquivo da UFJF. São livros com recortes de publicidades diárias, coladas a mão pelo próprio, desde a infância até a fase em que começou a trabalhar nas salas de cinema. Estão ali todos os filmes que ele assistiu, gostou e decidiu catalogar, colando seus anúncios diariamente em uma encadernação própria. Trata-se de um registro não só histórico, mas afetivo, num longo período de tempo, que foi guardado por ele mesmo durante anos. Sem dúvida nenhuma, um item único.

Produção é tema do minicurso: assista a exposição do Arquivo Central da UFJF no YouTube

Juiz de Fora já teve muitos e grandes cinemas de rua. Na sua opinião, a que se deve a extinção desses espaços?
Entre tantos pioneirismos, a cidade de Juiz de Fora também foi a primeira cidade de Minas Gerais a ter uma exibição do Cinematographo. No decorrer do tempo, também vivenciou a abertura de muitas salas, grandes ou pequenas, dependendo das circunstâncias econômicas e políticas. A concorrência da televisão e do videocassete, posteriormente, da internet e do entretenimento de multiplataformas, também impactou o modelo de negócio baseado no tradicional modo de consumir filmes em salas de cinema, sem falar na pressão imobiliária que as inviabilizaram. Tal realidade impactou a mudança na visão empresarial local, que não quis apostar mais nos cinemas de rua. Em contrapartida, o Poder Público foi omisso no que diz respeito a preservar a atividade, uma vez não criou políticas públicas nesse sentido.

“A concorrência da televisão e do videocassete, posteriormente, da internet e do entretenimento de multiplataformas, também impactou o modelo de negócio baseado no tradicional modo de consumir filmes em salas de cinema, sem falar na pressão imobiliária que as inviabilizaram”

O que havia de peculiar na experiência promovida por esses cinemas e hoje não temos mais com os cinemas em shoppings?
A experiência promovida pelos cinemas de rua é, e sempre será, mais acessível e democrática para a maior parte da população do que aquela promovida nos shoppings. Os cinemas de rua estão, normalmente, localizados de forma mais próxima das pessoas comuns, seja nos centros urbanos, seja nos bairros. Outra questão é o valor médio do ingresso, sempre mais atraente ao cidadão comum, principalmente para estudantes, jovens e trabalhadores, que fazem da ida ao cinema uma opção barata de diversão e cultura. Outro ponto importante é a maior opção de filmes culturais e/ou nacionais, já que nos shoppings são mais dirigidos a títulos comerciais e/ou dos grandes estúdios de Hollywood.


Confira a programação do Memorial para a 5ª Semana Nacional de Arquivos

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