O material a seguir integra a pesquisa para a composição da exposição "Seres políticos, seres plurais"
Assim como outros movimentos sociais que eclodiram e se reorganizaram na década de 1970, o movimento operário também apresenta um histórico de ação e protesto, que antecede em muito o período da ditadura. Na São Paulo de 1917, uma grande greve é considerada o marco da entrada dos trabalhadores livres e assalariados na cena política do Brasil. A greve reuniu mais de 100 mil pessoas, numa paralisação liderada por operários da fábrica Crespi, junto da Liga Operária da Mooca, e se prolongou por semanas. O gesto foi duramente repreendido pelos donos de fábricas e forças policiais. Contudo, serviu de inspiração e foi seguido por diversos outros protestos Brasil afora. Multidões foram às ruas, organizadas e lideradas por trabalhadores, sindicalistas, socialistas e outros grupos descontentes com a situação no país.
Em função da escassez de leis e direitos trabalhistas, as reivindicações por parte dos operários das fábricas e metalúrgicas no Brasil muitas vezes demandavam melhorias no alto custo de vida, o fim do trabalho infantil, a abolição do trabalho noturno e a manutenção de uma carga horária da jornada de trabalho. Desde o início do século XX, então, o movimento sindical passou a se fortalecer por todo o país, vivendo diversos avanços (a Consolidação das Leis do Trabalho, de 1943, dentre eles), o que aumentou a participação dos trabalhadores como atores políticos. Assim como outros movimentos sociais, no entanto, esse também foi atingido pelo golpe militar de 1964, desfavorável aos sindicatos.
Com a perseguição e prisão de militantes e lideranças, somada às intervenções na legislação por parte dos militares, o movimento operário foi desestabilizado e enfraquecido, reduzindo-se a organizações menores. A ditadura instituiu controle sobre os sindicatos e promoveu o arrocho salarial aos trabalhadores. Movimentos individuais passaram a se levantar em resposta a essas medidas, promovendo greves e protestos, respondidos com violência e repressão. No ABC Paulista de 1978, o Sindicato dos Metalúrgicos mobiliza milhares de trabalhadores na famosa greve da Scania.
Essas greves ficaram conhecidas como “braços cruzados, máquinas paradas”. Trabalhadores paralisavam a produção por um curto período de tempo, tendo como principal reinvindicação o reajuste salarial, questionando a política trabalhista e indo contra a proibição de greves instituída pela ditadura. No ano seguinte, em 1979, as greves pelo país envolvem trabalhadores de diversas áreas, incluindo professores, médicos, enfermeiros, funcionários públicos, cobradores de ônibus e muitos outros sujeitos, aos milhões, país afora.
Chegando à casa dos brasileiros, o movimento dos trabalhadores passa a receber ajuda da população, que levanta fundos para os grevistas. Assembleias se organizam, revelando lideranças sindicais cada vez mais importantes para o contexto político. A despeito das violentas respostas dos militares, as greves fortalecem e organizam o movimento e vários núcleos se formam no Brasil, confrontando instituições e defendendo a importância dos sujeitos, bem como suas indispensabilidades para o funcionamento da sociedade. As conquistas dos trabalhadores estão expressas na Constituição de 1988, que ajudaram a escrever.
Texto produzido por Laura Kasemiro, bolsista de Treinamento Profissional do Memorial da República Presidente Itamar Franco sob supervisão de Mauro Gabriel Morais, da divisão de difusão cultural e educação. Trabalho desenvolvido como atividade de pesquisa para a elaboração da exposição “Seres políticos, seres plurais”.
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