1992-2022: 30 anos da posse de Itamar Franco

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Faltando oito minutos para o relógio marcar 13h, Mauro Benevides, presidente do Senado brasileiro, abriu a sessão de posse do novo presidente da República. Pontualmente às 13h, Itamar Franco entrou no plenário da Câmara, conduzido por líderes partidários. Três minutos depois, o juiz-forano prestou o compromisso institucional. Às 13h06, Mauro Benevides declarou empossado o novo presidente, o terceiro civil a ocupar a presidência do Brasil depois de três décadas do regime ditatorial civil-militar. Quatro minutos mais tarde, às 13h10, Itamar assinou o termo de posse. Quatro minutos depois, a sessão que durara, portanto, 22 minutos, estava encerrada. Eis, então, o principal fato do país naquele 29 de dezembro de 1992, quando o então presidente afastado Fernando Collor de Mello tornou pública sua carta de renúncia às 9h34, deixando vago o cargo, logo ocupado por seu vice.

Em menos de 24 horas, na madrugada do dia 30, Collor foi condenado por 76 votos a 3 e tornou-se inelegível por oito anos. E Itamar iniciava seu principal desafio político, numa trajetória pública iniciada na Prefeitura de Juiz de Fora e com a experiência longeva do Senado Federal. Aos 63 anos, projetava não apenas o nome da cidade em que crescera e se formara engenheiro, mas o de companheiros com os quais atuou para reerguer o país. No ano em que completa três décadas, o episódio retorna à cena, ressignificado e mais bem compreendido pelo tempo passado. No decorrer de 2022, o Memorial da República Presidente Itamar Franco retorna a 1992 de diferentes formas, em diferentes ângulos e interesses.

Cerimônia de posse de Itamar no Congresso. (Foto: Arquivo Memorial)

Chamado de emergência

De acordo com os relatos dos jornais do dia 30 de dezembro de 1992, Itamar Franco tentou postergar em um dia sua posse. O Senado, porém, recusou e o fez imediatamente após a renúncia de Collor. Terceiro presidente da história da República a renunciar, Collor permaneceu no cargo por 932 dias, sendo que em 88 deles esteve afastado. Itamar, por sua vez, foi o sétimo vice-presidente a assumir o cargo principal. Já tendo assumido a presidência, ainda que temporariamente, por 88 dias, ele ainda tinha outros 733 pela frente. Ambos, portanto, “dividiram” o mandato, já que Collor presidiu o país por 844 dias, e Itamar por 821.

“Itamar Franco chegou ao Planalto carregando consigo o fardo de ter de assumir o governo igual ao médico anestesista que estava em um churrasco pensando apenas em devorar outra fatia de picanha quando foi chamado às pressas para uma cirurgia de emergência”, observa o jornalista Gilson Rebello no livro “O Brasil de Itamar” (HMP Editora, 1995). Ainda para Rebello, o legítimo processo jurídico-parlamentar respondeu ao desejo do povo, não pelas urnas, mas por seus representantes constitucionais. Itamar governava interinamente desde 2 de outubro daquele ano.

Plateia acompanhou cerimônia de passe com bandeiras e rostos pintados em referência à Diretas Já, de anos anteriores. (Foto: Arquivo Memorial)

Austeridade marcante

Em “O real Itamar – Uma biografia” (Editora Gutenberg, 2011), o jornalista Ivanir Yazbeck recorda o clima de euforia que marcou a posse, em contraste com a conhecida austeridade do político: “aplaudido de pé pelas galerias repletas de estudantes as faces exibindo traços verdes e amarelos, o presidente não discursou. Seu único gesto foi a leitura do compromisso de posse e a entrega de uma cópia de sua declaração de bens. Com o gesto, Itamar quis simbolizar a integridade de sua administração, em resposta direta ao antecessor”.

O primeiro ato de Itamar, segundo o jornal Folha de S.Paulo, foi a retirada de todos os retratos de Collor, pendurados nos gabinetes do Palácio do Planalto mesmo no período de seu afastamento. Conforme noticiou O Globo, Itamar retirou o retrato de Collor de seu gabinete ainda pela manhã, antes da renúncia. O restante dos retratos foi removido após a posse do novo presidente. Naquele mesmo dia, após sua posse, Itamar encontrou o motorista Eriberto França, que denunciara, seis meses antes, que as contas de Collor eram pagas por PC Farias. “Parabéns pelo seu gesto de coragem”, disse Itamar ao motorista, a quem também deu um abraço.

Os gestos de Itamar Franco naquele 29 de dezembro de 1992, 20 dias após a morte de sua mãe dona Itália Franco, foram reforçados por um discurso preciso no dia seguinte, transmitido em cadeia de rádio e TV a todo o Brasil. Era o primeiro pronunciamento oficial do mais novo presidente. “O Brasil está pronto para ocupar o futuro. O que lhe cabe, agora, é crescer na prosperidade comum. É vencer as desigualdades internas. É conviver com os outros povos, dentro das novas e desafiadoras realidades, respeitando-os, como é de nossa índole, e fazendo-se respeitar, como é de sua dignidade. É preservar a esperança”, disse Itamar logo no início de um discurso que prometeu estabilidade, responsabilidade, honestidade, desenvolvimento e respeito aos direitos humanos.

Ainda pleno em sentido, há 30 anos Itamar vaticinou: “A História só põe à prova os povos fortes. Somos um povo forte, e venceremos esta quadra”.

Itamar chegando ao Congresso, às 13h do dia 29 de dezembro de 1992. (Foto: Arquivo Memorial)

Texto escrito por Mauro Morais, do setor de Educação e Cultura do Memorial da República Presidente Itamar Franco, em celebração aos 30 anos da chegada de Itamar Franco à presidência do Brasil.

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