Juiz de Fora, a capital do cinema governada por Itamar

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A história da segunda edição do Festival de Cinema de Juiz de Fora, que em 1967 exibiu “Terra em Transe” e trouxe à cidade celebridades como Leila Diniz, Antônio Pitanga e Clementina de Jesus

Há exatos 55 anos, entre 29 de junho e 2 de julho de 1967, Juiz de Fora recebeu a segunda edição do Festival de Cinema de Juiz de Fora. Promovido pela gestão do então prefeito Itamar Franco, o Festival trouxe nomes em ascensão na cultura nacional, além de figuras notáveis do audiovisual brasileiro.

Encerramento do II Festival do Cinema Brasileiro de JF, em julho de 1967, contou com a presença de, entre outros, Mário Lago (camisa preta à esquerda) e Clementina de Jesus (vestido branco à direita). Fotos: Acervo Memorial

“Terra em Transe” e Juiz de Fora

O Festival ficou marcado pelo filme que encerrou a mostra. “Terra em Transe” de Glauber Rocha, tratado como um dos melhores e mais importantes filmes da história do cinema brasileiro, recebeu seus primeiros prêmios em Juiz de Fora. O longa-metragem foi reconhecido com os troféus de melhor filme e melhor diretor, José Lewgoy venceu como melhor ator e Glauce Rocha como melhor atriz, além de ter sido homenageado com a menção honrosa para a fotografia de Luís Carlos Barreto.

Depois de passar pelo Festival de Cinema de Juiz de Fora, “Terra em Transe” também venceu o Prêmio da Crítica do aclamado Festival de Cannes; o Prêmio Luis Buñuel, na Espanha; o Prêmio de Melhor Filme do Locarno International Film Festival; e o Golfinho de Ouro de melhor filme do ano, no Rio. A obra aparece em quinto lugar na lista dos 100 melhores filmes brasileiros segundo a ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).

Cartaz da edição especial de “Terra em Transe”, de Glauber Rocha

Mais que só um filme

Verdade seja dita, o Festival de Cinema de 1967 foi bem mais que só “Terra em Transe”. É claro que o filme de Glauber Rocha é a principal razão de o evento ser lembrado ainda, e isso é sintomático, tendo em vista a relevância que a obra premiada alcançou. Além dessa premiação, existiram várias outras movimentações de importância histórica, ou peculiaridades que valem a pena ser relembradas.

Um dos filmes do Festival foi o interessante curta-metragem “Uma Alegria Selvagem”, disponível no Youtube, e dirigido por um dos documentaristas mais importantes da história do cinema brasileiro, o juiz-forano Jurandyr Noronha. O realizador estava prestes a fazer seu filme mais importante, “Panorama do Cinema Brasileiro”, que sairia um ano depois, em 1968. O longa-metragem ganhou importância ímpar não só para a história, mas para a historiografia da sétima arte no Brasil.

Além da exibição de seu curta, Noronha também agitou a cidade com suas falas. Ele informou à reportagem do Diário Mercantil que voltaria a Juiz de Fora em poucos dias para fazer um curta-metragem sobre a cidade. E, não obstante, expressou sua vontade de realizar um filme todo rodado na localidade, com artistas locais. Infelizmente, nenhum dos projetos saiu do papel.

Almoço no Hotel São Luiz com convidados e equipe do II Festival do Cinema Brasileiro em JF, de 1967.

A efervescência

Além de “Terra em Transe” e “Uma Alegria Selvagem”, a mostra foi composta, ainda, pelo clássico “A Opinião Pública”, de Arnaldo Jabor, “Mar Corrente”, de Luiz Paulino dos Santos e “O Menino e o Vento”, de Carlos Hugo Christensen. Os dois últimos foram exibidos dia primeiro de julho, em sessão dupla.

No encerramento, subiram ao palco Leila Diniz, jovem atriz que estrelara “Todas as Mulheres do Mundo”, importante filme de Domingos de Oliveira no ano anterior, e Clementina de Jesus, cantora recém-descoberta e que estava em turnê pelo país apresentando seu primeiro álbum, “Rosa De Ouro”. No ano anterior, Clementina havia estado em Cannes, como uma das representantes do Brasil no evento cinematográfico. Juiz de Fora, portanto, estava alinhada ao que havia de mais moderno na cena nacional e internacional. Era a Capital do Cinema Brasileiro!

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