Juiz de Fora estabeleceu forte relação com os cinemas de rua, arte para a qual o político Itamar Franco sempre voltou suas intenções, inclusive como prefeito, quando lançou um festival cuja segunda e marcante edição este ano completa 55 anos
A relação entre o cinema e a cidade de Juiz de Fora é antiga e pioneira. Até mesmo, obstinada. A cidade foi palco, em 1897, há 125 anos, da primeira exibição cinematográfica pública no estado de Minas Gerais. E durante o período próspero dos cinemas de rua, chegou a abrigar 17 cinemas espalhados pelo Centro e pelos bairros da cidade. Apenas no Calçadão da Rua Halfeld se reuniam o Cine Glória, o Cine Festival, o Cine-Theatro Central, o Cine São Luiz e o Cine Palace.
A cidade que ficou marcada por seu engajamento cinematográfico e cultural despediu-se de seu último cinema de rua há cinco anos. Em 2017, o Cinearte Palace fechou as portas. Mesmo sob protestos de cineastas, frequentadores, cinéfilos e estudantes que se organizaram em movimentos como o Salve Cine Palace, liderado pelo saudoso Franco Groia, incansável defensor dos cinemas de rua de Juiz de Fora.

Com quase 70 anos de existência, o Palace foi construído em estilo art-déco, com uma magnitude arquitetônica única. Localizado no número 581 da Rua Halfeld, na esquina com a Rua Batista de Oliveira, bem no coração de Juiz de Fora, teve sua fachada tombada como patrimônio histórico municipal. Hoje dá lugar a uma loja de departamentos.
O filme que marcou a estreia do aparato cultural, em 1948, foi “Quando os deuses amam”. Passados 36 anos, o Palace fechou as portas por 14 anos, até o seu retorno em 1999, com alguns ajustes feitos em suas salas. Aquele era o primeiro ano de Itamar Franco como governador de Minas Gerais, que marcou presença no evento de estreia, ao lado do então prefeito de Juiz de Fora, Tarcísio Delgado.
Durante a cerimônia, Itamar destacou sua satisfação em rever as portas abertas. Era um retorno. Quando adolescente, ele frequentava o cinema. Recordava-se das produções italianas e dos filmes estrelados pela atriz Greta Garbo. O Palace, em suas palavras, tinha uma importância tão vital quanto o cinema que divulgava. E aquela não era uma defesa vazia, mas carregada de lastro, uma defesa que se fazia em nome de uma história que o próprio Itamar travava com a sétima arte.

Do Festival de Juiz de Fora ao Festival de Gramado
Há 55 anos, a Prefeitura de Juiz de Fora, liderada por um jovem Itamar Franco, festejava o cinema com a segunda edição de um marcante festival que reuniu nomes de peso na cidade, como a prestigiada atriz Leila Diniz, e premiou clássicos nacionais, como “Terra em Transe”, cuja primeira premiação se deu justamente no festival local. Anos depois, já como Presidente da República, Itamar sancionou a Lei de Incentivo ao Audiovisual, o que possibilitou a retomada da produção cinematográfica brasileira, setor bastante afetado pelas políticas da gestão anterior. Pela lei, Itamar foi homenageado com um troféu. Em 1994, o Festival de Cinema de Gramado presenteou o presidente com o Kikito de Ouro, exposto no Memorial da República Presidente Itamar Franco.

A rua, a popularização
A relevância do cinema de rua se dá justamente pela democratização do acesso aos trabalhadores e aos estudantes A aproximação promove o contato afetivo com o local, esteja ele localizado num bairro ou no Centro. Tradicionalmente, os filmes nacionais e as produções independentes receberam mais espaço nessas salas, que não se pautavam pelos aspectos puramente mercadológicos.
A luta perdida em Juiz de Fora pela permanência do seu último cinema de rua é compartilhada Brasil afora. No Rio de Janeiro, um dos mais tradicionais cinemas de rua da cidade, o Cine Roxy, em Copacabana, fechou suas portas em 2021. Atualmente, a capital fluminense conta com apenas sete cinemas de rua, sendo que uma de suas principais redes encontra-se em risco de fechamento.
Texto produzido por Jasmyn Lucchesi, bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação Artística (Pibiart) na modalidade Mediação Artística, no Memorial da República Presidente Itamar Franco, sob supervisão e colaboração de Mauro Gabriel Morais, do setor de Cultura e Educação.
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