É Tetra! 94: o ano do esporte, do Real e de Itamar

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A relação entre o presidente Itamar Franco e o esporte num ano marcado pela conquista do tetra na Copa de 1994 depois da trágica morte de Ayrton Senna

Começa neste domingo, 20, a Copa do Mundo de Futebol do Catar. E o Brasil persegue o Hexa! Aproveitando o clima, relembramos o ano histórico de 1994, ano em que o Brasil conquistou o Tetracampeonato Mundial no Futebol, celebrou sua primeira medalha de ouro para o Basquete Feminino e chorou a despedida de Senna.

Dunga, capitão da seleção do Tetra, e o então presidente Itamar Franco. Título coroou bom momento do governo. (Fotos: Acervo Memorial)

A morte de Senna e o presidente que deu certo

O Brasil parou no dia 1º de maio de 1994, quando depois de um acidente no Grande Prêmio de San Marino, na Itália, Ayrton Senna da Silva foi declarado morto. O então presidente Itamar Franco assistia à corrida no Palácio da Alvorada, ao lado de amigos assessores de Juiz de Fora, e ficou arrasado. Itamar recusou de imediato a presença nas cerimônias fúnebres, acreditando que o espaço deveria ser dedicado apenas à família do piloto e amigos. Para ele, a nota oficial divulgada pelo Governo e o decreto de luto por três dias eram o suficiente, narra Ivanir Yazbeck na biografia do político “O real Itamar”, de 2011.

Convencido, o presidente acabou comparecendo ao enterro para não parecer indelicado e indiferente, mas tomou uma posição estratégica, que foi, inclusive, lembrada pelo balanço de seu governo publicado pela revista Veja, sob o título “Enfim um presidente que deu certo”. Itamar foi ao enterro apenas por alguns minutos e tão tarde da noite que os jornais do dia seguinte não puderam registrar sua presença. Para a Veja, o episódio mostrava o melhor Itamar, “um presidente de dar orgulho”.

Luto no esporte: 1994 também ficou marcado pela perda de Senna, homenageado, inclusive, na vitória do Tetra.

Campeãs no Basquete

Um mês depois, a Seleção Brasileira de Basquete Feminino conquistava o Campeonato Mundial de Basquetebol pela primeira vez na história, vencendo as chinesas por 96 a 87. Em nota enviada à Confederação Brasileira de Basquetebol, o ex-jogador e entusiasta do esporte Itamar Franco afirmava a sua “alegria e admiração pelo excelente desempenho dessa equipe feminina que tanto orgulho tem dado à nação”. No dia 7 de julho daquele ano, o presidente condecorou todas as jogadoras e o técnico com a medalha do Mérito Desportivo.

A final disputada na Austrália foi o último jogo pela seleção de duas lendas do esporte, “Magic” Paula e Hortência. Na nota, Itamar também se permitiu lamentar a decisão de ambas. O acervo do Memorial preserva não só as fotos da condecoração, mas uma camisa autografada por todas as jogadoras, exposta em uma de nossas gavetas.

Magic Paula em cerimônia no Palácio do Planalto que homenageou as jogadoras medalhistas do basquete brasileiro.

O Tetra e o Real

No dia 1º de julho de 1994, exatamente dois meses após a morte de Senna, O Brasil celebrava a criação de mais um plano econômico, o Real, fruto das articulações políticas de Itamar e de uma ampla equipe de especialistas. A proposta tinha como meta tirar o país da crise econômica em que se encontrava.

Naquele mesmo mês começava o evento esportivo que atraía e continua atraindo todas as atenções do Brasil: a Copa do Mundo de Futebol. As expectativas trazidas pela nova moeda e pela seleção eram altas. Comandada por Parreira, a seleção levava a campo o goleiro Taffarel, o lateral direito Cafú, os volantes Mazinho, Dunga, o meia Raí, os atacantes Bebeto e Romário, dentre muitos outros craques.

Boa fase: Real foi lançado pouco antes do Brasil conquistar o Tetra.

O Informe JB, do Jornal do Brasil, dizia: “Se o Brasil ganhar o Tetracampeonato e o plano Real mandar a inflação para o brejo, já há um candidato à Presidência da República, em 1998: o mineiro, de Juiz de Fora, Itamar”. É curioso, e até mesmo cômico ver o próprio Informe JB repercutir a nota dois dias depois. A reação do juiz-forano ao saber da projeção para 1998 teria sido bater na madeira três vezes: “É para espantar o azar”, justificou.

Itamar Franco na residência oficial assistindo a seleção conquistar o Tetra.

Como sabemos, o Brasil conquistou o tetracampeonato. E Itamar decidiu que a entrega da medalha do Mérito Desportivo deveria ser na rampa do Palácio do Planalto, para que o povo pudesse acompanhar. “A festa é do povo, não do Estado”, disse o presidente, pedindo para que a participação de assessores, ministros e políticos fosse a mais discreta possível. Ele mesmo só aceitou aparecer no parlatório ao lado dos jogadores depois de muita insistência.
Itamar, com simplicidade e discrição, liberou os jogadores para a grande concentração popular que se formava em Brasília, recusando-se a oferecer um banquete em prol da antecipação da festa do povo. A imagem da taça sendo erguida por ele coroava não apenas uma campanha vitoriosa, mas uma nação que, pouco a pouco, encontrava motivos para vibrar.

Seleção brasileira de futebol é recebida no Palácio do Planalto para apresentar a Taça.

Texto produzido por Enrico Mancini, bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação Artística (Pibiart) na modalidade Mediação Artística, no Memorial da República Presidente Itamar Franco, sob supervisão e colaboração de Mauro Gabriel Morais, do setor de Cultura e Educação.

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