Itamar e as festas de fim de ano de 1992

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Do luto à consagração: como foram os festejos de Natal e Réveillon de Itamar Franco há 30 anos, em 1992, ano em que tomou posse como o 33º Presidente da República Federativa do Brasil

O momento era de silêncio. Presidente em exercício após o afastamento de Collor no processo de impeachment, Itamar Franco desembarcou em Juiz de Fora nos primeiros 40 minutos do dia 24 de dezembro. Consigo carregava a dor pela perda da mãe, dona Itália América, morta no dia 9 daquele mês, exatos 20 dias antes de sua posse como o 33º Presidente da República Federativa do Brasil. Com delicadeza e respeito, pediu que a Prefeitura cancelasse a apresentação do Coral da Cesama em frente ao seu prédio, na Avenida Rio Branco. O gesto seria uma homenagem a ele, mas Itamar preferia o silêncio. Sem festejos, a ceia natalina foi feita ao lado das duas filhas, Georgiana e Fabiana, além dos amigos Saulo Moreira, Thales Ramos e Ruth Hargreaves.

Recusando o assédio da imprensa, acampada logo na calçada à sua espera, o Presidente divulgou um bilhete. “Caros jornalistas, Neste dia santificado, peço que recebam a minha solidariedade cristã e os meus votos de saúde e êxito profissional. Mas gostaria também que entendessem melhor este momento de cristandade. Ficaria feliz se respeitassem a minha privacidade, o meu recolhimento. Sinceramente, sinto-me sitiado nos limites de meu lar, quando, em realidade, desejaria poder andar ‘livremente’, sem o assédio da imprensa. Embora compreenda a missão do jornalista, peço, em contrapartida, que também entendam os meus desejos e os direitos de um homem simples. Proponho, assim, sob este clima natalino, um acordo de cavalheiros. Nada, hoje, tenho a declarar, motivo pelo qual, respeitosamente, solicito que respeitem a minha liberdade de cidadão, que tem o elementar direito de ir e vir. Vamos nós, assim, cada um para a sua casa, para onde desejar. Desde já agradecido pela compreensão de todos. Feliz Natal! Obrigado, Itamar (25/12/1992)”.

Capa do jornal Folha de S. Paulo no dia 26 de dezembro de 1992: Itamar e as filhas em Natal sem festejos

Após a divulgação do texto, Itamar desceu até o térreo e encontrou os repórteres ali parados. Propôs, então, uma troca: deixaria ser fotografado ao lado das filhas e a imprensa se despediria. A foto foi feita, estampou as capas dos principais veículos do país no dia seguinte, mas os jornalistas ali permaneceram. O assédio da imprensa escalava nos últimos meses e não dava indícios de cessar. Muito pelo contrário. Dali a quatro dias, Itamar Franco foi empossado e seu Réveillon recebeu ainda mais holofotes.

Residência onde Itamar Franco passou o Réveillon em seu primeiro ano como Presidente da República. (Fotos: Acervo Memorial)

Superstições à mesa

O primeiro Ano Novo de Itamar como presidente foi vivido em Brasília, em sua casa, às margens do Lago Paranoá. Supersticioso, Itamar vestiu uma camisa de linho branca para uma ceia cujo prato principal era bacalhoada e vinho branco brasileiro. Nada de frango. “Galinha cisca para trás”, comentou com os jornalistas acampados na porta de sua residência. A ceia seria discreta, anunciou momentos antes. Ao seu lado, estavam dois casais de amigos de Belo Horizonte, o secretário-geral da Presidência, Mauro Durante, e os assessores Saulo Moreira e Geraldo Farias. O relógio marcava 1h30 quando Itamar e seus convidados se dirigiram até o lago para oferecer rosas para Iemanjá. Itamar esperava muito de seu novo ano.

Às margens do Lago Paranoá, casa do Presidente Itamar em Brasília permitiu a ele e a seus convidados que oferecessem flores a Iemanjá na passagem do ano de 1992 para 1993.

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