Com discrição, Itamar Franco tomou posse no dia 29 de dezembro de 1992 lançando mão de simbólicos gestos em defesa da democracia e da transparência

O relógio marcava 13h10 quando Itamar Augusto Cautiero Franco tomou posse como o 33º Presidente do Brasil. Antes, porém, irrompeu o Congresso às 13h, para a sessão que havia se iniciado às 12h52. Enquanto caminhava cercado por políticos e amigos, ouve das galerias lotadas o Hino da Independência. Às 13h03, Itamar presta o compromisso constitucional, já ao som do Hino Nacional. Presidente da sessão, o senador Mauro Benevides proclama: “O Congresso Nacional, consciente da sua responsabilidade histórica, tudo fará para que seu governo possa atender às aspirações da comunidade brasileira”. Após Itamar assinar o termo que o empossou, Benevides, às 13h14, encerrou a sessão. O Brasil tinha um novo presidente.

Discretamente, mas diante das câmeras dos veículos de comunicação do Brasil e de fora do país, Itamar Franco entregou um papel ao senador Mauro Benevides antes de assinar sua posse. Era sua declaração de bens. O gesto, segundo o jornalista Ivaniz Yazbeck na biografia “O Real Itamar”, “quis simbolizar a integridade de sua administração, em resposta direta ao antecessor”. Itamar tinha consciência da crise política que enfrentaria e demonstrou sua disposição e os valores que o norteavam na empreitada. Não sabia, contudo, das articulações nos bastidores em desfavor da pacificação.

Em entrevista à jornalista Leda Nagle, resgatada por Yazbeck para o livro, Itamar conta que o amigo e senador Pedro Simon foi até sua casa assim que soube da renúncia de Collor, às 9h34 daquela manhã de 29 de dezembro. Simon cobrou Itamar de seguir para o Congresso, para ser empossado, ao que o juiz-forano retrucou, afirmando querer esperar. Não havia o que esperar, alertou o amigo. Itamar, então, vestiu um terno e saiu rumo ao Congresso. No caminho soube que havia uma articulação da oposição para impedir a posse. Itamar chamou o ministro Henrique Hargreaves e convocou uma reunião na biblioteca do Palácio da Alvorada com todos os líderes partidários. Todos compareceram e o último a chegar foi Enéas Carneiro. “Vocês todos estão aqui, eu vou fazer uma pergunta só”, iniciou Itamar. “Vocês querem que eu convoque uma eleição geral? Eu faço na mesma hora”, assegurou. E ninguém quis.

Itamar já havia ficado 88 dias na Presidência, de forma interina. Somados aos 733 que restavam para seu mandato, exerceu o cargo por 821 dias, 23 a menos que o antecessor Collor, terceiro presidente da história da República a renunciar, sendo que Itamar foi o sétimo vice a assumir o mais alto posto do Executivo nacional. Antes mesmo da posse de Itamar, e na sequência da renúncia, todas as fotos de Collor foram retiradas das salas e gabinetes do Palácio do Planalto. Enquanto isso, em sua casa Itamar recebia os ministros e amigos. O primeiro a chegar, segundo narra o jornal Folha de S. Paulo, foi Murílio Hingel, parceiro de longa data. Hingel foi secretário de Educação de Juiz de Fora na gestão municipal de Itamar e passou a ministro da mesma área quando o juiz-forano chegou à Presidência. Segundo os presentes para registro dos jornais, Itamar estava tranquilo. “E bastante emocionado”, reconheceu o presidente em entrevista, tempos depois. Itamar sabia que os símbolos contidos naquele momento, eram muitos. Entre eles, a música que ecoava das galerias enquanto ele deixava o Congresso e que reafirmava suas raízes: “Ó Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais…”

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