A relação de proximidade e carinho entre a cidade da Zona da Mata mineira e o 33º Presidente da República

Juiz de Fora tinha 386 mil habitantes em 1991, segundo o Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística, o IBGE. Referência na região da Zona da Mata mineira, a cidade era conhecida das páginas de história por ter servido como ponto de partida do Golpe Militar de 1964. No início dos anos 1990, também fazia-se conhecida por ser berço de personalidades como o escritor Murilo Mendes, o sambista Geraldo Pereira, os atletas Giovane Gávio e Márcia Fu, dentre outros. Em 1992, no entanto, o lugar tornou-se referencial para toda a imprensa nacional, que regularmente se hospedava na cidade. Juiz de Fora passou a ganhar as páginas dos jornais sem o acréscimo “cidade mineira” ou “na Zona da Mata”. Era apenas Juiz de Fora, a terra do Presidente da República.

Nascido num navio em alto mar, após a mãe enviuvar em Salvador e decidir retornar para perto da família, Itamar foi criado na Juiz de Fora onde se formou engenheiro, se casou, teve duas filhas e tornou-se político, sendo eleito, aos 37 anos, prefeito do município. Parte da equipe com quem trabalhou no Executivo municipal foi convidada para também atuar no mais alto cargo do Executivo Federal. Murílio Hingel foi secretário municipal de Educação de Juiz de Fora e, nos anos 1990, tornou-se Ministro da Educação. Henrique Hargreaves assumiu a Casa Civil; Ruth Hargreaves, irmã de Henrique, tornou-se assessora especial; Marcelo Siqueira foi indicado para a presidência de Furnas; Alexis Stepanenko assumiu o Ministério do Planejamento; Saulo Moreira chegou à ministro da Saúde; Mauro Durante tornou-se secretário geral da Presidência, afora outros indicados para o segundo escalão e demais cargos. Juiz de Fora estava representada em Brasília.

No dia da posse de Itamar como Presidente interino, em 2 de outubro de 1992, o jornal Folha de S.Paulo especulava a composição ministerial do novo governante afirmando que haveria uma “república de Juiz de Fora”. No dia anterior, o colunista Gilberto Dimenstein lamentava a formação que nem ao menos havia sido apresentada, em texto intitulado “Itamar não começa bem”. “As articulações de bastidores em torno do ministério do presidente Itamar Franco desanimam: abundam dicas e informações de que, por enquanto, impera o critério da mediocridade”, escreveu o experiente analista político, apontando nomes igualmente experientes e que poderiam ser interessantes para a nova gestão. Seguro da competência dos amigos feitos no trabalho em Juiz de Fora, Itamar oferecia novos nomes à cena. A relação com a terra-natal, no entanto, vai seguir sendo objeto de comentários, em sua maioria, pejorativos, como o nome dado pela Folha ao governo de Itamar: República do Pão de Queijo. O alimento sequer é marca da gastronomia juiz-forana.

Juiz de Fora estava na Esplanada e Itamar com grande frequência estava em Juiz de Fora e agia em prol da cidade. Durante seu mandato viajou à cidade nas principais festividades e presenciou diferentes eventos públicos, como a inauguração do Centro de Estudos Murilo Mendes. O político foi o responsável por transferir as verbas necessárias para que o Ministério da Educação, através da UFJF, adquirisse o acervo do poeta juiz-forano e inaugurasse o espaço destinado à sua memória, hoje nomeado como Museu de Arte Murilo Mendes e situado no prédio ao lado do Memorial, onde antes funcionou a reitoria da universidade. Da mesma forma, no governo de Itamar, a mesma instituição adquiriu o Cine-Theatro Central, então um prédio em ruínas, que foi revitalizado e entregue à população juiz-forana. As marcas do Presidente Itamar em Juiz de Fora permaneceram, visíveis a quem anda pela cidade e outras milhares invisíveis, impressas nas memórias de juiz-foranas e juiz-foranas, que sempre têm alguma história para contar do Presidente que mudou o país sem se mudar da cidade.

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