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Memorial inaugura “Tantas Trajetórias”, coletiva sobre memórias individual e coletiva

Obras inéditas, de técnicas e discursos distintos, se somam a textos de diferentes autores em reflexão sobre como a história coletiva é construída a partir das narrativas de cada sujeito.

Vista geral da exposição que reúne três diferentes registros para debater ocupação das cidades. (Foto: Divulgação)

Qual é a sua história? A pergunta adesivada logo na fachada do Memorial da República Presidente Itamar Franco funciona como um convite. Do lado de dentro, a exposição coletiva “Tantas Trajetórias”, cuja abertura acontece na quinta-feira, 23 de junho, às 19h, aponta para uma construção que só se completa quando alcança o todo: a história coletiva só existe quando contempladas as narrativas individuais. A premissa da mostra é desdobrada de maneiras distintas por nove artistas da cidade, de diferentes gerações e práticas, da instalação à colagem, passando por pintura, fotografia, escultura e outras técnicas.

Às obras somam-se dezenas de trechos de textos, de autores brasileiros e estrangeiros, da jovem poeta Laura Conceição à polonesa Wislawa Szymborska, impressos no chão de todo o espaço expositivo. “Inserimos no piso nossos referenciais poéticos para a reunião dessas obras. Todas falam sobre a vida como um percurso vivido, como um emaranhado de histórias. Nossa perspectiva é bastante simples e considera que todos fazemos uma trajetória. E a sociedade é resultado desse entrecruzamento”, explica o curador Mauro Morais.

Substituindo os personagens reais por objetos que os representam, a fotógrafa Nina Mello exibe “Relicários”, reunindo “retratos de família” (nome da série que a obra integra), acompanhados por áudios nos quais um familiar reflete sobre suas memórias. “A série busca, a partir do registro de objetos de lembranças – envoltos da memória afetiva que tais peças encerram – e da oralidade, construir uma fotografia de família, de acordo com os vestígios do passado confrontados com o presente”, pontua a artista, cujo trabalho ativa diferentes sentidos.

Assim como “Pan em Glória”, instalação de Francisco Brandão, que aciona o tato, a visão e a audição ao justapor segmentos de portas repletos de fechaduras, cadeados e olhos mágicos. “Uma porta sem suas paredes separa, por prazer, apenas simbolicamente. O pânico do exterior garante ao interior a força das travas e cadeados – a arma contra a potência dos desejos alheios. O portal negocia a poética da passagem, da permissão, dos desejos secretos e do íntimo em público”, observa Brandão.

Com sua escultura em forma de coração, Júlia Vitral também acena para a perspectiva da passagem, tomando Carlos Drummond de Andrade e alertando que “há uma pedra no meio do caminho” e, assim, inserindo uma pedra no coração esculpido. César Brandão também alerta para as interdições como processo cíclico ao propor seu ready-made de placas de rua, três delas, cada uma com uma inscrição – “trajetória interrompida”, “avenida independência”, “retorno”. Irônico, o artista retorna à rua que hoje leva o nome de Itamar Franco, que também nomeia o espaço expositivo, para falar sobre as mudanças, sobre os percursos alterados. “O trabalho do César Brandão localiza a própria exposição dentro do Memorial, um espaço que contempla a narrativa de uma trajetória, de Itamar Franco. Ao propormos esta coletiva também expomos nosso desejo de também contemplar outras tantas narrativas. É importante que o espectador se perceba na história de Itamar e apreenda os tantos outros memoriais que se entrecruzam aqui e que são possíveis e não menos importantes”, defende Mauro Morais. “Essa, inclusive, é nossa proposta educativa para a exposição.”

Representado pela pintura de um cemitério de automóveis, Ramon Brandão chama atenção para esse emaranhado de histórias, assim como Perillo, ao projetar uma geografia onde se encontram pessoas e rotas, numa trama humana e espacial. Mais jovem entre os artistas, Ana Berenice faz sua estreia em uma exposição apresentando colagens sensíveis e poéticas nas quais acentua a capacidade de se metamorfosear. Apresentando uma narrativa íntima e pessoal, Adauto Venturi resgata, em três gravuras em metal, um trecho de sua vida que vai da reclusão à libertação, também propondo esse trajeto rumo a um outro lugar, a outra consciência.

Sintetizando as muitas histórias que cabem numa só história, Valéria Faria, professora do Instituto de Artes e Design da UFJF e pró-reitora de Cultura da universidade, exibe a instalação “Nosso Senhor dos mesmos passos”. Na obra, enfileira 15 pares de sapatos usados pelo pai. Por onde andaram? O que viram? Sobre o que pisaram? Quando descansaram? São muitas as perguntas despertadas pelos calçados, testemunhas de tantas trajetórias.

A exposição coletiva tem visitação gratuita de segunda a sexta, das 10h às 17h. Agendamentos para visitas mediadas de grupos ou individuais podem ser feitos pelo e-mail cultura.memorial@ufjf.br.

TANTAS TRAJETÓRIAS
Exposição com Ana Berenice, Adauto Venturi, César Brandão, Francisco Brandão, Júlia Vitral, Nina Mello, Ramon Brandão, Petrillo e Valéria Faria
Abertura dia 23 de junho, quinta-feira, às 19h
Visitação de segunda a sexta, das 10h às 17h, até 19 de agosto.

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