Memorial inaugura galeria virtual com exposição sobre movimentos sociais

Mostra do Memorial da República Presidente Itamar Franco reúne registros do período da redemocratização e trabalhos da artista Iúna Mariá

09

Rejeitando a padronização da sociedade brasileira defendida e desejada pela ditadura militar, os movimentos sociais que se formaram ou se fortaleceram durante o período da redemocratização (1975 – 1985) no país não apenas reivindicaram liberdade, mas contribuíram para a construção de uma paisagem mais plural no Brasil. Essa paisagem, no entanto, não está concluída, e carece de manutenção diária. A pluralidade da sociedade brasileira é um processo contínuo, define a exposição “Seres políticos, seres plurais”, que o Memorial da República Presidente Itamar Franco inaugura nesta sexta, 16, às 18h. Em formato on-line (http://mrpitamarfranco.com.br/n/panteao/), a mostra inaugura a galeria virtual da instituição, projetada pelo programador Rodrigo Duque exclusivamente para o ambiente virtual e na qual o espectador pode caminhar por um espaço circular verossímil, com as obras e os textos fixados nas paredes.

Reunindo fotografias, charge, cartazes, vídeos e recortes de jornais, a exposição utiliza-se de diferentes mídias, de acervos diversos do país, para retratar a atuação dos movimentos sociais na luta por democracia, igualdade e justiça social, questões asseguradas pela Constituição de 1988, mas ainda em disputa na sociedade atual. Numa defesa da política como ferramenta para a consolidação de direitos, a exposição retrata a relação entre política e coletividade. “A política é essencialmente um exercício coletivo. Ela é fundada e é pensada, em grande medida, como uma forma de pensar coletivamente o bem comum e agir coletivamente no espaço público”, defende Fernando Perlatto, professor do departamento de história da UFJF, que, em curto vídeo, integra a mostra.

Para Mauro Morais, do setor de difusão cultural e educação do Memorial, responsável pela curadoria, o objetivo é refletir sobre o caminho trilhado pelo país até o presente, propondo um questionamento sobre o que é necessário para um futuro melhor. Nesse sentido, promovendo outras inquietações, um formulário elaborado também virtualmente complementa a exposição, assim como uma cartilha educativa e uma playlist disponível na plataforma Spotify, com canções da música popular brasileira de antes, durante e após a redemocratização. “As músicas nos auxiliam a compreender como as pautas identitárias se comportaram nesse período, das metáforas necessárias durante o regime ditatorial, ao discurso direto dos anos 1990”, observa Morais, que assina a pesquisa da mostra junto com as bolsistas do Programa de Treinamento Profissional Gabriela Gama, Laís Sindorf, Laura Kasemiro, Luana Dias, Tainá Oliveira e Thaís Gamarano.

Personagem atuante nesse momento histórico, Itamar Franco surge na mostra como um dos articuladores pela redemocratização, assegurando uma Constituinte diversa que seria, mais tarde, refletida no maior documento da nação. Ainda que o exercício da política seja também individual, pontua Fernando Perlatto, “quando vamos agir no mundo da cidade, no mundo público, agimos como sujeitos coletivos. Então, política pressupõe diálogo, divergências dentro do que é possível divergir, e construção de consensos para buscar a consolidação de determinados programas”. Dessa forma, ser político corresponde a ser plural.

Corpos políticos e plurais

“A minha principal luta hoje é pela sobrevivência”, afirma a artista visual Iúna Mariá, que apresenta cinco de seus trabalhos na seção “Corpos políticos, corpos plurais”, que integra a exposição “Seres políticos, seres plurais”. Na seleção de sua obra, estão imagens construídas digitalmente que reivindicam escuta para vozes ainda hoje marginalizadas. Graduanda em pedagogia pela UFJF, pesquisadora no grupo de estudos Mirada e no Coletivo Descolônia, Iúna reflete sobre a própria vivência em seu trabalho. “O Brasil ainda está longe de proporcionar condições dignas para a sobrevivência de corpos trans, travestis e negros como o meu. Enfrento as mais diversas violências com a minha produção artística. Passo a contrapor as ideias estigmatizadas que colocam o meu corpo em lugares de marginalidade”, conta ela, compreendendo que as questões de gênero e de raça estão intimamente ligadas às outras tantas questões que formam a sociedade.

“Os movimentos sociais dos quais estou mais próxima são os que mais se relacionam e acolhem as especificidades do meu corpo, entendendo tais temas como urgentes para o avanço das nossas lutas”, diz a artista, que nas obras expostas também debate o poder no Brasil e as representações acerca do feminino e do nacional. A exposição “Seres políticos, seres plurais”, permanece em cartaz até setembro e realizada, com agendamentos, visitas mediadas para grupos pelo e-mail educativo.memorial@ufjf.edu.br . O trabalho é uma realização do Memorial da República Presidente Itamar Franco, da pró-Reitoria de Cultura da UFJF.

 

Exposição “Seres políticos, seres plurais”. Abertura dia 16 de julho de 2021, às 18h.

No site: http://mrpitamarfranco.com.br/panteao/

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *