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TOMAR DA CARNE VERBO

Das concepções subjetivas e íntimas às discussões globais acerca das desconstruções dos padrões e perspectivas impostas aos subalternizados, a exposição virtual e imersiva desenvolve um discurso sobre a decolonialidade, em defesa dos rompimentos, das pequenas e das grandes revoluções. A mostra coletiva reúne 30 obras de diferentes linguagens e de autoria de 11 jovens artistas.

Artistas envolvidos: Ana Berenice, Augusto Henrique, Dábila Cazarotto, Débora Fioravante, Di França, Ivo Lazarevitch, Paula Duarte, Ramon Vilaça, Renata Dorea, Terra Assunção e Walla Capelobo.

Visitação: on-line, disponível aqui.

Obra de Paula Duarte, da série “Eu sei quem sou, mas às vezes me esqueço”


Tomar da carne verbo

Incontáveis sujeitos e verbos foram e continuam sendo silenciados em nossa sociedade. Sentenças inteiras apagadas. E a permanência do estado de coisas tem uma serventia. Romper com o que se mantém exige lucidez e honestidade.

O fim do regime colonialista não representou a extinção de suas práticas. O colonialismo se perpetua em diferentes gestos, da linguagem aos costumes. O imaginário coletivo ainda está impregnado de passado.

A mesma sociedade pós-colonial que se movimenta baseada numa estrutura arcaica produz diferentes críticas a essa permanência que promoveu o extermínio e genocídio de povos inteiros, juntamente com seus saberes e tradições.

Os estudos decoloniais respondem, de maneira reflexiva e criadora, a um processo que inferiorizou e subalternizou imaginários culturais em prol de um projeto hegemônico. Apontam eles para a urgência de outras vozes, narrativas e matizes.

“Tomar da carne verbo”, sugere a poeta juiz-forana Laura Assis em seu “Manual”, do livro “Depois de rasgar os mapas”. E continua: “A vida é no imperativo/ e o amor, meu bem,/ não é só uma palavra”.

A exposição que extrai do verso seu título e norte propõe narrativas que se contrapõem aos discursos preconcebidos. Onze jovens artistas ligados, de alguma maneira, a Juiz de Fora, combatem o epistemicídio, apontado pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos como sendo a prática de fazer calar a diversidade. “É o racista que cria o inferiorizado”, alerta-nos Frantz Fanon em seu “Pele negra, máscaras brancas”.

Ana Berenice, Augusto Henrique, Dábila Cazarotto, Débora Fioravante, Di França, Ivo Lazarevitch, Paula Duarte, Ramon Vilaça, Renata Dorea, Terra Assunção e Walla Capelobo em distintas formas e formatos qualificam contemporaneamente um debate sobre pertencimento.

Partimos da constatação da professora Nilma Lino Gomes de que somos “um corpo no mundo”, ao mesmo tempo em que somos sujeitos históricos e corpóreos no mundo. Sem descartar nossas subjetividades, desejos e individualidades, a identidade é também construída coletivamente. E reconhecer as múltiplas marcas deixadas pela violência de um colonialismo subsistente é o que nos permite afirmar e reafirmar outras cores, formas, fantasias, desejos e mistérios.

Levantamo-nos contrários à negação da terra, da nossa terra, como geradora de potências. E entregamos a certeza de um entrecruzamento que não passa só pelas origens, mas também pelos diferentes presentes que vivenciamos dia após dia.

No percurso assumido por “Tomar da carne verbo”, também apontamos para os novos colonialismos, novos referenciais forçados e o nada novo subjugo do corpo da mulher negra. Corpo negro esse que, na resistência, encontra frestas para se erguer e se (a)firmar.

Resistir, verbo que se conjuga no imperativo, é gesto intimamente ligado à força da ancestralidade. Raízes geram novas raízes, defendem esses onze jovens artistas, certos de uma revolução pela decolonialidade.

“Tomar da carne verbo”, portanto, é convite para, de hoje, repensarmos passado e futuro. “A história não se faz, por mais que se tente, com retrocessos e obscurantismos”, discursou na tribuna Itamar Franco, então senador, em 1980.

Por uma nova história, escreveu o martinicano Aimé Césaire, do movimento de Negritude: “minha ideia de universal é um universal rico com todos os particulares, uma profunda coexistência de todos os particulares”. Sigamos, então, a receita da também poeta Laura Assis e tomemos da carne, dessa carne que é história particular e coletiva, os verbos para novas frases, construções.

 


Ficha Técnica

Artistas
Ana Berenice
Augusto Henrique
Dábila Cazarotto
Débora Fioravante
Di França
Ivo Lazarevitch
Paula Duarte
Ramon Vilaça
Renata Dorea
Terra Assunção
Walla Capelobo

Curadoria
Laura Kasemiro
Mauro Morais

Expografia
Laura Kasemiro
Luana Dias
Mauro Morais

Produção
Laura Kasemiro
Mauro Morais
Thaís Gamarano

Listas
Laura Kasemiro
Luana Dias
Mauro Morais
Tainá Oliveira

Identidade visual e design gráfico
Laura Kasemiro

Programação web
Rodrigo Duque

Realização
Universidade Federal de Juiz de Fora
Pró-reitoria de Cultura
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