As litografias do artista pernambucano João Câmara, representativas do painel Conjuração Mineira, foram realizadas em 1985, em óleo sobre tela, para o Panteão da Pátria, em Brasília. As sete obras seguem uma estrutura narrativa, com temas como “Sacrifício da indústria nacional”, “Conjura”, “Pregação de Tiradentes”, “Morte de Cláudio Manoel da Costa”, “Farsa”, “Forca” e “O corpo”, em que elementos como o serrote e machado servem de metáforas para o esquartejamento de Tiradentes, a cobra, como símbolo da traição, e a chama da lamparina representa momentos ora de tensão, ora de euforia ou melancolia.
Artista: João Câmara
Duração: de outubro de 2016 a julho de 2017
Mediante litografias sobre a Conjuração Mineira, o criador pernambucano João Câmara ressignifica o episódio histórico passado ao tempo presente.
Pelo inanimado corpo do poeta Cláudio Manoel da Costa estendido no chão da Casa dos Contos (Ouro Preto) e o enforcamento de Tiradentes, retoma o tema da resistência opressora do poder oficial, supressora da liberdade que ainda, séculos depois, no período da ditadura militar instaurada em 1964, em sentido similar tortura até a morte o jornalista Wladimir Herzog sob a pretextada visão oficial de suicídio, na convicção popular assassinato.
Provido de narrativa linear, Câmara alterna instantes de tensão, humor e farsa, numa simultaneidade de tempos, enfocando o tema da indústria nacional, do ouro na expectação da riqueza, no século XX exemplificada na ambição da mineração em Serra Pelada e no trágico rompimento das barragens em Mariana que resulto em desastre ambiental sem precedentes no Brasil.
De singular estrutura narrativa, este conjunto de sete litografias: 1. Sacrifício da Indústria Nacional, 2. Conjura, 3. Pregação de Tiradentes, 4. Morte de CMC [Cláudio Manoel da Costa], 5. Farsa, 6. Forca e 7. O corpo: alusivas ao painel do artista no Panteão da Pátria (Brasília) que, tal o painel “Tiradentes” de Cândido Portinari, é um grandioso mural do maior acontecimento histórico de Minas Gerais.
Impregnadas de fervor patriótico e emoção imaginadas à luz da história, as imagens traduzem a liberdade do criador que, não sendo historiador, tampouco cientista político, se ateve ao jogo dos valores e às qualidades plásticas mediante forte simbolismo sinalizador dos passos dos acontecimentos dramatizados.
Abrindo a narrativa, a roca tece a trama, o serrote e o machado anunciam o terrorismo do esquartejamento, a cobra aponta a traição. Pela chama da lamparina atesta-se a evolução da Conjuração Mineira e o agravamento das tensões, os momentos de euforia ou de melancolia conforme o desenrolar da história.
Assim… testemunhamos, nas litografias de João Câmara, uma travessia de saber da História do Brasil, ponderando que também se aprende história nos espaços externos à escola e longe dos tratados canônicos.